Na Antigüidade, as pessoas não tinham idéia de como as coisas vivas funcionavam. As primeiras pesquisas em biologia se iniciaram a olho nu. Vários livros, escritos por volta de 4000 a.C. (atribuídos a Hipócrates, o "pai da Medicina") descrevem sintomas de algumas doenças comuns, e atribuem suas causas à dieta, ou a outros problemas físicos, e não à obra divina. Apesar disso, pouco se conhecia sobre a composição dos seres vivos. Acreditava-se, então, que a matéria era composta por quatro elementos (fogo, terra, ar e água), e os corpos vivos, em geral, de quatro "humores": sangue, bile amarela, bile preta e flegma. As doenças em geral teriam origem no excesso de algum desses componentes.
Aristóteles, na Grécia, não foi somente um grande filósofo, mas também um grande biólogo, ao compreender que o conhecimento da natureza requeria observação sistemática. Desse modo, ele reconheceu um volume espantoso de ordem no mundo vivo, agrupando os animais em duas categorias gerais (com sangue e sem sangue), que correspondem por pouco às classificaçõs atuais de vertebrados e invertebrados. Mesmo sem contar com instrumentos em suas observaçõs, grande parte de seu raciocínio permanece válido até hoje.
Já Galeno, romano do século II d.C. percebeu que somente a observação cuidadosa das partes externa e interna (esta, por dissecção) de plantas e animais não seria o bastante para compreender a biologia. Ele se esforçou, por exemplo, para compreender a função dos órgãos dos animais. Mesmo sabendo que o coração bombeava sangue, Galeno não podia descobrir, só observando, que o sangue circulava e voltava ao coração. Ele então supôs que o sangue era bombeado para "irrigar" os tecidos e que novo sangue era produzido de maneira ininterrupta para reabastecer o coração. Essa idéia errônea foi ensinada por quase 1500 anos.
Somente no século XVII que William Harvey, inglês, apresentou a teoria de que o sangue flui sem cessar em uma direção, fazendo um circuito completo, e voltando para o coração. Ele calculou que, se o coração bombeia 60g de sangue por batida, a 72 batidas por minuto, em uma única hora, ele teria bombeado 240kg de sangue, ou seja, 3 vezes o peso de um homem! Já que fabricar tanto sangue em tempo tão curto seria impossível, o sangue teria que ser reutilizado. Esse raciocínio lógico, auxiliado pelos algarismos indo-arábicos, em apoio a uma atividade não observável não tinha precedentes.
O ritmo da investigação científica se acelerou na Idade Média. Muitas plantas foram descritas pelos primeiros botânicos (Bunfels, Bock, Fuchs e Valerius Cordus). Lineu ampliou o trabalho de Arist´teles, criando as categorias de classe, ordem, gênero e espécie. Uma idéia de origem comum da vida passou a ser discutida a partir de semelhanças entre os diferentes ramos da vida.
Apesar do progresso rápido, a biologia estacionou quando o olho humano já não era mais suficiente. Só no século XVII é que lentes foram reunidas em um tubo, formando o primeiro microscópio. Começava a descoberta de um novo mundo, derrubando conceitos tradicionais sobre a vida.
A teoria celular foi então formulada em princípios do século XIX, por Matthias Schleiden e Theodor Schwann. Estes concluíram que as células constituem todo o corpo de animais e plantas, e que, de certa maneira, elas são unidades individuais com vida própria. Isso ocorreu na mesma época das viagens de Darwin e da publicação de "A origem das espécies". Mesmo sem conhecer a célula, Darwin conseguiu extrair sentido de grande parte da biologia em nível acima da célula. Ele não criou a teoria da evolução, mas a defendeu sistematicamente, e ainda formulou a maneira como ela funciona - através de seleção natural atuando sobre variações.
Mesmo com a teoria celular, por razões físicas, o microscópio óptico não permitia a visualização de detalhes da estrutura da célula. Com a descoberta do életron em fins do século XIX e do microscópio eletrônico décadas depois, novas estruturas subcelulares foram descobertas, como o orifícios do núcleo, ou a membrana dupla das mitocôndrias.
Experiências em laboratório começam a desvendar alguns mistérios: a síntese de uréia (resíduo biológico) a partir de cianato de amônio (não-biológico) em 1828 por Wölher; a cristalização da hemoglobina por Hoppe-Seyler; a descoberta de que as proteínas são constituídas por aminoácidos. Este último fato chamou a atenção, e uma nova técnica - a cristalografia de raios X - foi criada para estudar a estrutura protéica.
Em 1958, Kendrew determinou a estrutura da mioglobina (uma proteína) através dessa técnica. Apesar da complexidade, esse estudo abriu caminho para Watson e Crick trabalharem com o ADN. Eles descobriram a estrutura helicoidal dupla do ADN, marcando o início da bioquímica moderna. Hoje, o uso de computadores e algumas inovações experimentais permitem estudar enzimas, proteínas e ácidos nucléicos de modo mais fácil, desvelando assim os princípios do funcionamento no nível básico da vida.
Texto disponível em: http://www.ime.usp.br/~cesar/projects/lowtech/vinc/breve.html, Acessado em: 24/10/2010
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